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Alma de um VagaMundo

quinta-feira, setembro 30, 2004

Kappeln 



Continuando a rumar a norte, chegamos a uma zona do Báltico de seu nome Schlei. A sua cidade de referencia é a bela cidade de Kappeln, que fica situada numa enseada (Förde) do mar Báltico. Schlei é famoso pelos seus extensos parques naturais, onde podemos fazer longas caminhadas, com o bosque de um lado e o báltico do outro. Mas sobre isso falarei no próximo dia.



Kappeln é uma cidade pequena, mas muito acolhedora e a sua marginal é um local muito agradável para se passear. Tem uma grande ponte movediça, com alguns recantos, onde nos podemos sentar e observar os barcos a passar, aproveitando a brisa marítima e o agradável sol (quando o temos, claro).



A outra grande atracção de Kappeln, e que merece uma visita, é o velho moinho holandês que remonta do séc. XVII. É possível visitar o seu interior e descobrir como os antigos germânicos e holandeses fabricavam o pão nesses tempos.

Depois de uma caminhada pelo centro histórico da cidade, fechado ao transito como se pede, é hora de retemperar forças. Aí o conselho vai para uma visita ao Café Kö, que tem um atractivo muito especial (para além da sua excelente localização, na margem do Báltico).



No norte da Alemanha, à semelhança dos Paises Baixos e da Escandinávia, come-se muito peixe cru. Uma espécie de sushi no pão. No Café Kö, podem encontrar cerca de 30 variedades de peixe, de muito boa qualidade. Destaque para o salmão, para os camarões e para o arenque. Confesso que foi mesmo o melhor Fischbrötchen (nome em alemão para este alimento e que em tradução literal quer dizer – peixe no pão) que alguma fez comi. Mesmo muito fresquinho, generosamente acompanhado por vários vegetais e muito bem temperado. O único senão é o cheiro a peixe com que se fica no fim. Ficamo-nos a sentir umas verdadeiras focas... mas afinal de contas estamos na zona delas. Em Roma, sê romano...

A. Narciso @ quinta-feira, setembro 30, 2004

terça-feira, setembro 28, 2004

Eckernförde 



Visto ter morado em Kiel, essa foi a cidade onde fiquei e de onde parti para as várias visitas que fiz. Para mais Kiel, não só é a capital do estado de Schleswig-Holstein, mas está também estrategicamente situada na costa do Báltico, sensivelmente no centro do estado. Kiel é também uma porta marítima para a Escandinávia e alguns paises de leste. Nomeadamente existem partidas diárias em gigantescos navios para Gotemburgo, Oslo, Copenhaga, Riga, Tallimm e São Peterburgo.

Mas sobre Kiel falarei mais à frente. Partindo de Kiel rumo a norte, pela margem do Báltico, passamos obrigatoriamente pelo Nord-Ostsee-Kanal, que é simplesmente o maior canal artificial da Europa, e que liga o Mar Báltico ao Mar do Norte ao longo de 98,7 kms. Uma obra digna de ser vista e que é utilizada para a passagem de navios de carga de elevado porte, que, graças a este canal, poupam cerca de 300 kms de viagem.



E assim chegamos à nossa primeira paragem, a agradável cidade costeira de Eckernförde. Esta é uma das praias mais agradáveis de toda a costa do Báltico, mar este que é normalmente muito calmo, quase como um gigantesco lago, como podem ver pelas fotos. Essas simpáticas “cadeiras” que se vê na praia são uma invenção germânica para combater a usualmente fria (exceptuando os meses de Julho e Agosto) brisa do mar. Nelas podemo-nos sentar agradavelmente com a nossa companhia e no quentinho apreciar a paisagem perante nós. Podemos inclusive alugar uma que esteja consideravelmente isolada...



Uma nota importante. Nas praias alemães é necessário pagar uma entrada. O sistema funciona usualmente como os parquimetros. Ou seja, tiramos um bilhete para o tempo que desejamos estar na praia e lá vamos nós. Eu sei, é ridículo, e é obvio que eu nunca paguei tal coisa, nem pretendo pagar. Um português pagar para estar numa praia alemã é no mínimo ridículo. Claro que se quiserem fazer um dia de praia, aí a compra do bilhete é essencial porque mais tarde ou mais cedo alguém virá controlar. Mas para um passeio esqueçam lá isso...



Passeando pelo longo areal somos surpreendidos ao encontrar o restaurante Algarve. O ideal para se comer uns belos pratos portugueses, num excelente ambiente e com vista para o mar. Para quem, como eu, lá esteve algum tempo, este restaurante é uma verdadeira preciosidade (o único em toda a costa), e nem preciso de dizer que tenho aqui bons amigos que sempre gosto de rever. E que têm bom gosto, visto o vinho da casa ser do Cartaxo (é verdade, exportamos para a Alemanha) J Se um dia por lá passarem digam que vão da minha parte e têm uns cafezinhos portugueses garantidos, por conta da casa (outra preciosidade na Alemanha - café Delta).

A. Narciso @ terça-feira, setembro 28, 2004

segunda-feira, setembro 13, 2004

Quadro e Lugar da Semana XXVII 

Boa tarde,
Devido à visita de alguns colegas angolanos, que me visitam profissionalmente esta semana, a rubrica semanal surge hoje um pouco mais tarde. Na arte vamos até França, espreitar a arte de James Ensor. Nas viagens o convite vai para um destino bem mais exótico e que merece uma visita, logo que a oportunidade surja... ou seja criada.

Para todos votos de uma boa semana.

Quadro da semana:


James Ensor
(França, 1860-1949)
Autoretrato com máscaras


Lugar da Semana:


Taj Mahal
Agra, India

A. Narciso @ segunda-feira, setembro 13, 2004

quinta-feira, setembro 09, 2004

Lá Fora III 



Cenas do Último Capítulo

Sentado na sua imponente cadeira rotativa de pele negra, Dantas acende o seu primeiro cigarro do dia. O primeiro travo é uma mistura de prazer com dor. Usualmente é assim. Efeitos dos abusos do dia anterior. Pensa em deixar de fumar. Dá mais uma golfada. O ar enche-se com aquele cheiro que já se embrenhou em sua pele, na sua vida. O fumo percorre em pequenos círculos o seu caminho até ao infinito, até se perder no nada. Deixa de pensar nisso. Fumar mata e daí? A morte sobrevoa a vida a cada instante. E se a dele poder contribuir para as receitas estatais, tanto melhor.

Luisa, a sua secretária entra no seu gabinete. Traz com ela alguns jornais diários e uma chávena de café quente, que fumega, misturando o aroma do seu café aromatizado com noz com o do tabaco. O costume, portanto... Pousa suavemente as coisas na secretária de Dantas, evitando fazer barulho para não o perturbar. Ele indiferente aos seus cuidados olha pela enorme janela, que fica por detrás da sua secretária e que serve literalmente de parede. Tem os olhos presos no horizonte. Ao longe vê o porto de Lisboa, já tomado pela azáfama matinal. Alguns dos cargueiros partem enquanto outros chegam. Urge descarregar e voltar a carregar. É um circulo que nunca pára. Gosta de apreciar a ordem que sempre se encontra no meio do caos, característico de um lugar destes. E gosta que os seus pensamentos voem, se percam algures, entre o rio e a cidade, entre o passado e o presente.
Roda a cadeira na direcção de Luisa e fixa nela o seu olhar.

- Traz-me um JB Luisa. Gosto de Whiskey novo pela manhã. Evita a desidratação – diz, esboçando um sorriso.

Luisa já se tinha habituado às excentricidades de Pedro Dantas. De facto não só já se tinha habituado, como até literalmente as amava. Ele já lhe havia concedido algumas noites, mas nada mais... Ser atraente, não é o suficiente para satisfazer um homem como Dantas e ela sabia disso. Mas o sonho é sem dúvida o lado imortal do homem. E ela sonhava.

- É para já Dr. Dantas. Mas se me permite, julgo que não devia beber tão cedo. Até porque o Dr. Becker deve estar a chegar e...
- Pois... eu isso não lhe permito doce Luisa. E tendo em conta a chegada eminente de Herr Becker, julgo que se devia apressar – exclama piscando o olho.

Luisa acena com a cabeça, corando, e sai do gabinete. Dantas começa a folhear o jornal. Começa sempre pela secção de crimes, que como costuma dizer “é a única onde verdadeiramente algo de concreto acontece”. Prende o seu olhar numa pequena noticia: “Prostituta Cubana, assassinada na passada noite em Lisboa”. Esta parecia ser já a quarta vitima no prazo de uma semana. Todas as vitimas tinham em comum a profissão, nada mais. De resto eram de várias idades, várias cores e de vários credos. Com tanta gente para matar, porque escolhiam logo as mais inocentes. Dantas tem um particular carinho pelas damas do prazer. Um carinho ambíguo, mas ainda assim, um carinho... A noite Lisboeta parecia estar a criar cada vez mais tarados.

A porta do gabinete torna-se a abrir. Luisa tinha em sua mão o requisitado Whiskey e a seu lado um homem. Alto, magro e de cabelos grisalhos. Pálido como um cadáver e vestido com um fato bordeaux, que era o exemplo perfeito do mau gosto alemão para a roupa. Combinava-o com uns tênis cor de pêssego. Impressionante. Dantas havia visto palhaços com vestimentas mais discretas. Não que Becker não fosse um palhaço. Um palhaço com um estilo muito próprio, mas ainda assim...
Luisa preparava-se para o apresentar, mas Becker, antecipou-se.

- Herr Dantas. Wie geht's dir meine freund?
- Gut, danke. Und dir meine groß freund
- Auch gut. Portugal immer machen mich fühle gut – exclama sorrindo.

A. Narciso @ quinta-feira, setembro 09, 2004

segunda-feira, setembro 06, 2004

Quadro e Lugar da Semana XXVI 

Bom dia,
No rescaldo do primeiro jogo da equipa nacional rumo ao mundial germanico, e em homenagem à menina que tanto espirou os nossos rapazes, o lugar da semana escolhido só podia mesmo ser Riga, a capital da Letonia. E para além de raparigas simpaticas, esta cidade do Báltico tem outros atractivos e merece sem dúvida uma visita.

O Quadro da Semana, ficou a cargo de Da Vinci, que anda cada vez mais na boca do povo, graças ao famoso livro O Código Da Vinci, seguramente já lido por muitos de vós. Logo estou seguro que agora olham com outros olhos para o quadro a última ceia.

Para todos votos de uma boa semana.

Quadro da semana:


Leonardo Da Vinci
(Italia, 1452-1519)
A Ultima Ceia (1498)


Lugar da Semana:


Riga, Latvia

A. Narciso @ segunda-feira, setembro 06, 2004

sexta-feira, setembro 03, 2004

Hora do Cinema 

Estreou esta semana nas nossas salas, o novo filme do realizador austriaco Michael Haneke. O argumento anda à volta de uma situação de caos, situação essa que nunca ficamos bem a saber qual é. Não que isso importe... O que importa mesmo é que toda a acção decorre no campo, onde pessoas que tinham uma vida vulgo normal (como a nossa?) lutam para sobreviver numa comunidade “feita” de emergência, onde a heterogeneidade reina, e onde se convive com a fome, a sede e a morte diariamente. Pessoas normais obrigadas a viver uma situação de calamidade, onde a sobrevivência é o que mais conta, e onde o lado animal se solta com facilidade. O Tempo do Lobo é um filme que de certa forma choca, não tanto pelas imagens, mas pelo que nos leva a reflectir. A ausência total de banda sonora dá ainda mais força ao filme, tornando-o mais duro, mais real na sua surrealidade.

Destaque ainda para a excelente fotografia do filme e para os bons planos. Porém o filme peca pelo excesso de pausas, que retiram um ritmo, que se desejava mais acelerado, ao filme. A idéia é boa, o filme é aconselhável, mas com um pouco mais de ritmo teríamos uma grande obra. Assim temos uma obra mediana cujo grande valor está na reflexão que nos obriga a fazer.


O Tempo do Lobo
Título original: Le Temps du Loup
De: Michael Haneke
Com: Béatrice Dalle, Isabelle Huppert, Patrice Chéreau
Género: Dra
Classificacao: M/16
ALE/FRA, 2003, Cores, 110 min.

Argumento: "Quando Ana (Isabelle Huppert) e a família chegam à sua casa de campo descobrem que está ocupada por estranhos. Mas esta será apenas a primeira descoberta do que será um doloroso processo de aprendizagem. Nada mais é como era. O mundo está à beira do caos. O que começa por ser a história de Ana e dos dois filhos acaba por assumir contornos de um drama global. "O Tempo do Lobo" é o último filme de Michel Haneke, realizador de "A Pianista" e "Brincadeiras Perigosas"." in Público

E como o tempo se apresenta bem cinzento para o fim de semana, sem dúvida alguma que o hábito outonal de visionar um bom DVD, no aconchego do sofá, se torna bastante aliciante. Proponho então o filme Lilya para Sempre, um dos melhores filmes que visionei nos últimos tempos.

Lilya para Sempre

Título original: Lilya 4 Ever
Realizador: Lukas Moodysson
Intérpretes: Oksana Akinshina, Artyom Bogucharsky, Lyubov Agapova, Liliya Shinkaryova, Elina Benenson
Suécia/Dinamarca, 2003

Este é o primeiro filme do sueco Lukas Moodysson a estrear-se em Portugal e conta uma história de confronto do mundo juvenil com o adulto, pintada com tintas muito negras.

Lilya (Oksana Akinshina) é uma vítima anónima do fim do comunismo na Russia. Abandonada pela mãe, que foge para os EUA com o namorado, e pela tia num quarto imundo num prédio degradado de um subúrbio miserável de uma cidade russa, Lilya vê-se sem dinheiro para sobreviver. Acaba por ter de se prostituir para que possa comprar comida. Numa dessas incursões pela noite conhece um rapaz russo emigrado na Suécia, pelo qual se enamora e que a leva a deixar o país.

Lilya para sempre é um filme que retrata bem a queda de um anjo, a perca da inocência da pior forma, num mundo cruel talhado pelo sofrimento, pela dor, e sobretudo pela terrivel constatação de que tem "mundos" dos quais já não há saida.

Bom Fim de Semana!

A. Narciso @ sexta-feira, setembro 03, 2004

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2004 by Alexandre Narciso

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