quinta-feira, janeiro 20, 2005
Acordar...

Acordo... a cama tem uma dimensão desmesurada. Terei encolhido durante a noite, como naqueles filmes americanos que tanto vi na juventude? Tacteio os lençóis em redor, mas não sinto entre os dedos a tua pele, não sinto o teu calor em mim. A tua ausência é capaz de tornar o local mais acolhedor num imenso espaço vazio. É isso, não sofri qualquer mutação nocturna. Continuo a ser eu, continuas a ser tu... continuamos a ser nós.
Ergo-me, abro as cortinas. O sol, lá fora, espreita timidamente por detrás de uma negra nuvem, sobre o olhar atento das gaivotas. São madrugadoras como eu sem ti...
Faço café... quero apenas sentir o seu aroma. Não quero acordar, não quero abandonar o limbo, não quero despertar. Puxo de um cigarro... Lisboa já acordou, já se escutam as buzinas, já se escutam os passos apressados. Eu não tenho pressa...
Olho de soslaio para a cama. Imagino que os finos lençóis de seda branca são fofas nuvens, que decoram os céus... sorrio e torno a olhar. Estás lá, bem no centro brilhando para mim... podia chamar-te sol, mas ele nunca brilhará como tu...
Fotografia de Jan Bengtsson